Epicuro e a História de Cupido e Psique: O Combate pelo Amor

Para Daiene
Sabemos que se um pensador foi violentamente perseguido e distorcido em seu pensamento ao longo dos séculos no Ocidente, esse pensador foi Epicuro. Tal demonização foi artificialmente realizada pelo cristianismo medieval como forma de assegurar a dominação e o pastoreio de seus fieis. Uma entre as caracterísitcas epicurinas que esse cristianismo medieval mais demonizou, refere-se à idealização de que o prazer deve predominar sobre a dor, que cada ser a seu modo deve livrar-se do sofrimento e alcançar uma existência feliz e prazerosa. Na verdade, tal concepção está ligada a outras caracterísitcas, que em um todo, criam uma concepção materialista, frontalmente, portanto, contrária às concepções metafísicas medonhas impostas no ideário medieval pelo cristianismo. Em uma concepção atomista – o homem é apenas uma organização determinada de átomos -, e sensacionista – essa organização atômica nos proporcionou sentidos capazes de captar a seu modo o mundo que envolve o homem -, Epicuro vê sentido, para aliviar o peso de uma existência finita e não subsistente, que o homem possa gozar essa breve viagem em uma vida alheia à dor e ao sofrimento, logo, dedicada a uma bem-aventurança prazerosa. Mas, longe de ser uma experiência de vida mundana, de prazeres menores e imediatos, Epicuro recomenda humildade, prudência, comeditimento e justiça como formas de se alcançar verdadeiramente a felicidade que só pode ser sentida na alma, quando usada racionalmente.
Pois bem, nosso intento é relacionar discursos e aproximar leituras de tal forma que uma ideia inusitada se vá formando por si, se manifeste apenas pelo prazer de confluir estórias, pensamentos, discursos, metáforas, um exercício de analogia para uma hermenêutica de largo espectro. Tenho denominado este método de Filosofia Fantástica. Eis uma história fantástica, epicuriana.
Era uma vez uma deusa de máxima beleza, Vênus. Ela tinha um filho, cujo nome originário era Eros. Eles habitavam a morada destinada aos deuses de máxima categoria. Na terra, vivia uma princesa, de nome Psique, cuja formusura, beleza e delicadeza era tão comentada e divinizada pelos homens que a deusa ficou enciumada e temeu perder adoração e poder para a beleza de Psique. Então, possuida por forte despeito, Vênus chamou seu filho e querendo vingar-se ordenou-lhe que marcasse aquela audaciosa beleza, Psique, de forma que apenas um ser baixo, indigno, se apaixonasse por ela. Eros se apossa de setas e arco, de vasilhas com água salgada e doce, procurou Psique enquanto esta dormia e lhe derramou água salgada nos lábios tocando-a com a seta. Psique acorda, não consegue ver o deus invisível, que, por seu turno, ao vê-la melhor, não pode deixar de se envolver em tal beleza e imediatamente se arrepender, derramando-lhe água doce nos cabelos doirados, ao mesmo tempo em que sem querer se feria com sua própria seta. Assim Psique ficou condenada a não arrumar quem a quisesse desposar, enquanto Eros se transformava em um Cupido triste, a um tempo apixonado e triste. Mas um fim grandioso espera os dois. Ajudada várias vezes pelos deuses a superar o despeito e a vingança de Vênus, e destinada a casar-se com um deles, conforme predisse o oráculo de Apolo, Psique após ter desobedecido à instrução que a proibia de ver seu amante no escuro, na verdade Cupido, acaba por ser protegida pelo próprio, que se rebela contra a mãe e foge com Psique. E assim Cupido e Psique se casaram e tiveram um filho maravilhoso, cujo nome é Prazer.
Epicuro e o Prazer. Prazer, filho de Cupido e Psique. A Estética de Vênus contra o Amor inpregnado à Alma humana. Estética e Ética. A Ética do Prazer. A Alma que não resiste a conhecer, mas que conhecendo segue em frente face ao poder da Estética superficial da beleza dos deuses-demônios. O incogniscível que se transforma em sabedoria pela luta do Amor que se une à Alma. O Prazer é o fruto dessa luta, o Prazer do Amor na Alma humana. O Amor dos deuses na Alma humana. Corpo gera Prazer quando a Alma se nutre de Amor. O interior, o sentir, o profundo, profundis, sensibilidade, o gozo da vida. O exterior, a beleza má, a desorientação dos sentidos, o prazer imediato, superficial, filhos sem prazer, sem o verdadeiro prazer, não vêm da união entre Amor e Alma. A luta contra os deuses, o anjo que ama o humano, o Amor que não pode se realizar a não ser na Alma impura humana, que assim se purifica, mas que dá em troca aos anjos e aos deuses a possibilidade de sentirem afinal o Amor, seu fruto também divino, Prazer para além de Eros (erotismo, libido apenas). Não mais!

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