O Duplo Caráter do Trabalho e o Marxismo de John Holloway
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O DUPLO CARÁTER DO TRABALHO E O MARXISMO DE JOHN
HOLLOWAY[1]/
Desde o início, Marx, nos Manuscritos
Econômico-Filosóficos de 1844, chamava a atenção para o duplo caráter do
trabalho, dividindo-o em “trabalho alienado” e “atividade vital consciente”. Esta
atividade vital consciente é a atividade “autodeterminada”, portanto, “ontocriativa”,
como aquela que distingue os humanos dos demais animais. Isto se deve ao fato
particularmente “surpreendente” que os humanos concebem o seu fazer antes de executá-lo,
e, que, assim sendo, toda a realização humana é realmente “o presente do
passado”, e o passado “o presente do futuro”.
A outra condição que nos torna humanos, está claro,
é que as gerações futuras não precisam “aprender do zero” todo o manancial de
informações válidas, e as que não são válidas, recorrendo apenas à observação
minuciosa das formas como os elementos de seu grupo agem diante da natureza e
de seus pares, ou com quem são levados a conviver. Chamamos a isto de vital
para os grupos humanos porque este aprendizado contínuo e acumulativo que passa
de geração a geração, como informação em um estágio sempre superior de
conhecimento, realmente nos fez saltar à frente de todos os seres conhecidos,
aumentando a velocidade e a quantidade da massa de ciência e tecnologia
disponível a cada nova descoberta e praticidade efetivas. Nosso DNA é
espantosamente semelhante a ratos, a porcos e aos demais primatas, mas só o
homem faz, neste sentido, história. Faz e desfaz: porque antecipando as suas
realizações a partir de um reportório sempre mais desenvolvido de conhecimentos
pode antecipar, idealizar, planejar a execução/ realização de seus objetos e
objetivos, e pode modificá-los a qualquer momento, inclusive ao longo do
próprio percurso de suas atividades.
O outro tipo de trabalho que Marx falava, o trabalho
alienado é, diferentemente, uma determinação histórica social, e não uma
condição ou potência da natureza sobre o homem, como aquela desenvolvida ao
longo de milhares de anos de evolução e dinâmicas naturais: o trabalho alienado
é uma construção derivada da divisão
do trabalho social, quando de alguma forma a execução desse trabalho é separada
da sua idealização, quando a concepção sofre uma ruptura com a execução, isto
é, quando o homem é separado do objeto que constrói. Esta ruptura que o aliena,
portanto, que o desumaniza não é também uma “derivação natural” simples da
divisão do trabalho, mas é uma ruptura
política na base de algum privilégio, portanto de dominação de alguém ou
alguns sobre alguém e os demais. Para existir trabalho alienado deve existir antes
um tipo de dominação correspondente, pois a ele se impõe o poder: mas as
dominações das primeiras civilizações estamentais e estatais ainda não eram
exercidas exatamente como trabalho alienado no sentido marxiano. Para existir
trabalho alienado deve existir algum poder sobre quem faz e o que faz, mas não necessariamente
no “saber” e na “forma” como o faz. A dominação que sempre se observou desde
que os primeiros grupos humanos se organizaram socialmente, só atinge, contudo,
o predicado de “alienação” diante do fenômeno de expropriação dos meios e das
formas de trabalho, do saber e do poder-fazer – isto se verifica na máxima
maturidade e naturalidade endêmica dentro de condições específicas da
organização social econômica, quer dizer, na forma específica capitalista de
produzir os víveres e os bens necessários à sobrevivência coletiva. Assim, o
trabalho alienado aparece neste momento para Marx como um fenômeno intrínseco
ao modo de produção capitalista e seu funcionamento de reprodução de capital[2].
N’O Capital, Marx já não utiliza o mesmo
vocabulário, e passa a adotar a terminologia “trabalho concreto” e “trabalho
abstrato”, quanto à caracterização do duplo caráter do trabalho. Marx escreveu
a Engels: “os melhores pontos no meu trabalho são os seguintes: 1) o duplo
caráter do trabalho, em função de se expressar como valor de uso ou como valor
de troca” (24-8-1867). Então fica claro aqui que Marx relaciona diretamente o
trabalho concreto ao valor de uso das mercadorias e o trabalho abstrato ao seu
valor de troca. O trabalho concreto produz valores de uso e o trabalho abstrato
produz valores de troca, os primeiros como resultado do trabalho
criativo-produtivo no fazer, “sem levar em conta a sociedade em que tem lugar”
(HOLLOWAY, 2021, p. 693), e os segundos como trabalho “não autodeterminante”
que produz valores para mercado sob a
determinação de propriedade e gestão do capital, para sua reprodução ou acumulação.
De todas as formas, o que este duplo caráter do
trabalho e as formas do valor das mercadorias nos diz, como fundamento seminal
do pensamento marxiano, é que estas categorias abstratas estão sempre inseridas
em uma forma determinada de organização social total de trabalho para a sobrevivência
coletiva. A possibilidade da vida humana é dada por esta organização social
determinada ao longo da história, ou da forma específica como em cada época os
meios e as formas de fazer perfazem uma totalidade onde o saber acumulado e
potencializado pelo homem considera possível uma certa quantidade e qualidade dos produtos necessários à sua sobrevivência.
O estágio atual desta forma de organização é do tipo mercantil, a plataforma
matriz a partir da qual se erige o modo de produção capitalista, que visa, não
a produzir valores de uso para sobrevivência material (e imaterial!) da
sociedade, mas produz valores de troca iminentemente voltados para a
transformação de tudo em capital e sua acumulação. Não se trata, desta feita,
apenas de uma forma produtiva, mas dessa forma em relação a certa disposição
das forças produtivas, e igualmente de uma organização intersubjetiva, quer
dizer, um conjunto de relações sociais correlatas na dimensão do trabalho
abstrato, e sua relação com: 1) o trabalho concreto (ou melhor, a ruptura com
este); e 2) com os demais estratos da chamada superestrutura social (ou
cultura).
O foco no pensamento hollowaydiano está nesta ideia
aristotélica do homem que se realiza na organização social dada – na polis -, por dentro dela. Mas que se pode rebelar contra as suas formas e gestão de fazer, contra a forma mercadoria
burguesa, e ir para-além da negação
(HOLLOWAY, 2021), negação que se materializa no trabalho abstrato que produz a
ruptura pela dominação da concepção e sua realização separada do produtor. Esta
dominação específica enquanto trabalho abstrato se materializa como o que nega
a autodeterminação criativa do poder-fazer (incluindo aí o saber-fazer).
Afirmar que existe uma organização social histórica é afirmar o materialismo
histórico de Marx, mas afirmar o contra-e-ir-além
é resgatar o materialismo dialético com o qual parece que os autores no campo
da esquerda cortaram relações ou o subestimaram, ao menos desde a virada do milênio,
em nome de uma ortodoxia descontextualizada.
A organização social tomada pela economia política
implica diretamente em resguardar o fundamento das relações sociais formativas
de uma forma específica de produção e circulação de valores de troca ou
mercadorias, tal como, e porquê o trabalho concreto e a confecção de valores de
uso acabam sendo subsumidos nas trocas mercantis.
Mais: esta subjunção do trabalho concreto pelo
trabalho abstrato, ou da “sublimação” de valores de uso pelos valores de troca,
nas sociedades mercantis (neo)liberais, é a forma de permitir a alienação do
fazer, mas da mesma forma, de extinguir a importância permanente daquele que
faz, o trabalhador assalariado do capital – desta forma, o humano não é apenas
alienado, mas literalmente deslocado do processo social de produção e circulação
e, por consequência, das demais atividades vitais, as de trabalho criativas,
como na educação e nas artes[3]. O
que o trabalho abstrato, alienado, não autodeterminado, executa, é uma transvaloração da idealização concreta
do fazedor na base da execução abstrata do trabalho, na forma mercadoria,
especializado, segmentado, setorizado cujo único objetivo é explorar um quantum de mais valor que não apenas
transforma dinheiro em capital, como o amplia. Daí, na confecção de mercadorias
e sua abstração produtiva voltada à circularidade produção-troca, a percepção
da organização determinada capitalista da produção-circulação e as relações
sociais adjuntas, corroboradas pelas instituições políticas e jurídicas
burguesas, como que “somem” ou tornam-se “transparentes”, “inexistem” no mundo
real, ainda que a subsunção formal (jurídica) cristalize a forma negativa do dom e da potencialidade a ser eliminadas
no trabalho abstrato. E, consequentemente, além de toda a alienação que existe no
processo de trabalho capitalista, este propicia a forma mais cabal de
desumanização na sua trajetória histórica-dialética.
A capacidade do modo de produção capitalista
permanecer tal como se apresenta para a negação do fazer humano, seu
poder-sobre o trabalho concreto, encontra seu contraditório na impossibilidade
de permanecer fora da concorrência e monopolização privada, com mais ou menos
aliança com o capital público (Estado). Na medida em que o capitalismo passa a
desenvolver as suas contradições para o trabalho, dita, de um lado, a
superprodução, e de outro, contraditoriamente, a composição orgânica do capital
na base do aumento exponencial de investimento em capital fixo, ciência e
tecnologia aplicada à indústria no plano global de livre-mercado.
Os fenômenos de “fetichização” e “reificação” das
mercadorias, e das coisas de forma geral, são no pensamento marxiano, as formas
como os humanos não se veem naquilo
que executam, fora da sua concepção e dentro de uma execução sob a dominação estratégica alheia,
dependem diretamente de uma inversão perversa, da negação de seu saber-fazer,
para a qual se dirige a luta das classes trabalhadoras, por
dentro-contra-e-além da negação intrínseca do trabalho abstrato ou valores de
troca. A luta de classes é a luta contra o poder-sobre o fazer, sobre o
poder-fazer, é, assim, a luta contra a
forma do fazer no capitalismo e contra o capitalismo. A luta de classes então,
nesta visão menos ortodoxa, que parte da abertura plena do duplo caráter do
trabalho, deve focar a dimensão de fazer, ou melhor, a negação do fazer sob o
domínio da forma de reproduzir o capital, que significa que a luta de classes,
e a luta da classe trabalhadora deve ser alçada à dimensão da luta contra as
formas de trabalho próprias no modo de produção capitalista a partir da luta
por dentro-contra-e-além de sua abstração imediata (e real) e, por
consequência, do capital, diferentemente da luta de classes cujo foco é a luta
contra o capital em si, o que acaba por se constituir em Holloway, como uma luta
ortodoxa pelo poder. Para Holloway: “aqui o argumento diz que a luta
revolucionária não é a luta do trabalho, mas o fazer contra o trabalho; diz,
também, que a luta da classe trabalhadora é contra a sua própria existência
enquanto classe, ou seja, é contra a sua própria classificação.” (HOLLOWAY,
2021, p. 702).
A partir do duplo caráter do trabalho e do duplo
aspecto do valor[4], o autor pode distinguir o
capital não apenas, como uma
categoria econômica, mas, como dissemos, “como a forma historicamente específica
de organização da atividade humana.” (HOLLOWAY, 2021, p. 703). Desta forma mais
abrangente procura voltar a luta de classes para aspectos mais amplos e
dinâmicos das conjunturas neoliberais de mercado, e sustentar as lutas
históricas das classes assalariadas, na medida em que as lutas atuais possam
ter como enfoques a revolta do fazer contra o trabalho, como impulso para a
autodeterminação criativa e realização associativa. Essa “negação” por
dentro-e-além na luta de classes, procura, fundamentalmente, evitar a
hierarquia e o comando que sempre reproduz as instituições e os institutos, os
aparelhos e os aparatos constitutivos do poder, os sindicatos, os partidos, as
associações de classes, espelhadas nos parlamentos e nas negociações do poder.
Diante do fato irrecusável que o sistema capitalista é a própria dominação
endêmica do trabalho concreto e dos valores de uso, a luta da massa de trabalhadorxs
deveria ser, deste ponto de vista, não exatamente a luta contra o capital, mas contra as formas de fazer do capitalismo,
colocar o antagonismo no mesmo processo do agir, e diz Holloway, “não como uma
possibilidade, mas sim como uma parte inevitável do viver.” (2021, p. 703).
Neste diapasão, Holloway não apenas rivaliza e contrapõe-se
ao cognitivismo operaísta[5] de
Hardt e Negri (2006), como, a nosso ver, avança nos paradigmas da razão mais
individualista do identitarismo (FRASER, 2019), principalmente, quanto a certa
leitura do movimento operário contemporâneo do ponto de vista do obreirismo
reformador da tradição na base da precarização dos novos trabalhadores urbanos[6],
argumentando que “nossos movimentos são a crise do trabalho abstrato e o
resultado dessa crise depende do (sic)[7]
futuro do mundo.” (HOLLOWAY, 2021, p. 705).
Tal é, em curtas palavras, a conformação vital das
categorias marxianas do autor, dirimindo a dúvida da importância atual de Marx
para a sociologia e a política críticas do neoliberalismo e da hegemonia da economia
burguesa, reforçando-se o marxismo como a teoria mais forte e apropriada para o
autonomismo político antiglobal fissurar[8] a hegemônica
estrutura econômica-cultural capitalista, no campo das lutas emergentes e
insurgência concreta do direito à autodeterminação de comunidades e povos, e da
abrangência das presentes lutas ambientais conservacionistas, anticapitalistas
e antiestatais para o campo da esquerda.
BIBLIOGRAFIA
BONNET, Albert. Antagonismo e
diferencia: la dialéctica negativa y el posestructuralismo ante la crítica
del capitalismo contemporáneo. In: Holloway, John; Ponce, Fernando Matamoros;
Visquerra, Sergio Tischler (Org.), Negatividad y revolución: Theodor W. Adorno
y la política, Universidad Autónoma de Puebla; Herramienta Ediciones, Buenos
Aires, 2007, p. 37-72.
HOLLOWAY, John. As
fissuras e a crise do trabalho abstrato. Revista direito e práxis, Rio de
Janeiro, Vol. 12, N.01, 2021, p. 687-706. Trad. De Gustavo Moura de Oliveira e
Paula Monique Kunzler Schneider.
HOLLOWAY, John. Agrietar
el capitalismo. El hacer contra el trabajo, Buenos Aires: Ediciones Herramienta,
2011.
HOLLOWAY,
John. Autonomismo positivo y negativo.
In Holloway, John; Ponce, Fernando Matamoros; Visquerra, Sergio Tischler
(Org.), Negatividad y revolución: Theodor W. Adorno y la política, Universidad
Autónoma de Puebla; Herramienta Ediciones, Buenos Aires, 2007, p. 89-93.
HOLLOWAY, John. Mudar
o mundo sem tomar o poder. São Paulo: Viramundo, 2003.
HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Império. 8ª. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2006.
FRASER, Nancy. O velho está morrendo e o novo não
pode nascer. São Paulo: Autonomia Literária, 2019.
JAPPE, Anselm. Crédito
à morte. São Paulo: Hedra, 2013.
MARX, Karl. Crítica
do programa de Gotha. In: Marx e Engels:
obras escolhidas. V.2. São Paulo: Alfa-ômega, 1984.
MARX, Karl. O
Capital. São Paulo: Boitempo, 2015.
[1] Serviu-nos de base o artigo de
John Hollway, “As fissuras e a crise do trabalho abstrato”, Revista direito e
práxis, Rio de Janeiro, Vol. 12, N.01, 2021, p. 687-706. Tradução de Gustavo
Moura de Oliveira e Paula Monique Kunzler Schneider. O original foi publicado
em 2011, quando o autor preparava o seu livro em inglês “Crack Capitalism”,
para a língua espanhola, pela editora Bajo Tierra Ediciones/ Sísifo, México.
[2]
A forma como tal se dá nas eras mais antigas e mais atrás nos primórdios da
humanidade, a forma como as primeiras tribos constituíram os primeiros
assentamentos com embriões de estamentos e atividades vitais hierarquizadas de
dominação, ainda é campo pesquisado pelos antropólogos e arqueólogos modernos.
Mas se alguma distinção na atribuição de atividades derivou para o campo da
dominação, e desta para a expropriação de um saber coletivo e propriedade dos
meios de fazer, só pode ter sido a partir da politização consciente de uma
idealização cerebrina da observação mais natural das distinções observadas
entre os seres naturais, da natureza e seus ambientes. Ao contrário do que idilicamente conjeturamos, a natureza é diferença e
força. Por este motivo, diga-se dede logo, que a “distinção”, na linha do
pensamento de Foucault e Deleuze, que se propôs nos ardores e das desilusões
acadêmicas e práticas da década de 1960 do século passado, pareceram desnecessárias
e mesmo perniciosas para o conhecimento crítico, objetivo não instrumental, dentro
do pensamento da Teoria Crítica de Adorno e os demais membros da Escola de
Frankfurt. Ver a respeito do enlace
entre o pensamento de John Holloway, e a contraposição entre Adorno, Foucault e
Deleuze: BONNET, Albert. “Antagonismo e diferencia: la dialéctica negativa y el
posestructuralismo ante la crítica del capitalismo contemporáneo”, In Holloway,
John; Ponce, Fernando Matamoros; Visquerra, Sergio Tischler (Org.), Negatividad
y revolución: Theodor W. Adorno y la política, Universidad Autónoma de Puebla;
Herramienta Ediciones, Buenos Aires, 2007, p. 37-72.
[3] Engels, em conhecida passagem em
nota de rodapé à quarta edição d’O Capital para a língua inglesa, refere-se ao “labor”
nos seguintes termos: “O trabalho que cria valores de uso e é determinado
qualitativamente é chamado de work,
em oposição a labour; o trabalho que
cria valor e só é medido quantitativamenbte se chama labour, em oposição a work.”
(O Capital, 2015, Boitempo, 2015: nota 16, p. 124). Seguimos a seguinte
orientação: “trabalho” é aqui aquele imposto fora das condições de
autodeterminação dos fazedores, que Engels chama de labour, e que corresponde a certa quantidade de valor ou valor de troca; usaremos a expressão “fazer”
no sentido genérico de potência de
idealizar e um poder executar, uma
junção, portanto, qualitativa
pensando-se em termos de valor de uso.
[4] Neste sentido, a argumentação de
Anselm Jappe, que “Marx hesitou, desde suas obras de juventude até seus últimos
escritos, como a Crítica do Programa de
Gotha (1875), entre o programa de uma libertação do trabalho (portanto, através do trabalho) e o de uma libertação em relação ao trabalho (portanto,
libertar-se do trabalho). Sua crítica da economia política contém uma
ambiguidade profunda no que diz respeito ao trabalho.” (JAPPE, 2013, p. 135),
parece-nos extensivamente exagerada; mas é aqui, neste limiar, se Marx deixou
dúvidas ou não quanto ao “futuro do trabalho” e à forma do inevitável “esgotamento
do trabalho abstrato”, que se dá a diferenciação entre o cognitivismo
hollowaydiano e o pensamento da crítica do valor de Kurz e Jappe.
[5] Sem dúvida, existe no pensamento
de Holloway um “germe” de uma “ética da personalidade” quanto a uma ruptura
radical dos valores notadamente quando se afasta, no plano das lutas obreiras,
da “ditadura do proletariado” e de qualquer poder nos moldes das formas
estatais autocráticas. A destacar que Holloway se considera parte da tradição
autonomista ou operaísta, mas propondo uma inversão, onde o vanguardismo põe a
luta de classes, voltar às análises do capital e da dominação. HOLLOWAY,
John, “Autonomismo positivo y negativo”. In Holloway, John; Ponce, Fernando
Matamoros; Visquerra, Sergio Tischler (Org.), Negatividad y revolución: Theodor
W. Adorno y la política, Universidad Autónoma de Puebla; Herramienta Ediciones,
Buenos Aires, 2007, p. 89-93.
[6] Veja-se: ANTUNES, Ricardo. Os
sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2011; BRAGA, Ruy. A política do
precarizado: do populismo à hegemonia lulista. São Paulo: Boitempo, 2012.
[7] Se aqui se troca-se “do” pelo
“o”, o futuro do mundo, para bem dizer, é que dependeria do resultado da crise, e não o contrário como está dito, o
resultado da crise pelo futuro do
mundo.
[8] Refere-se à publicação do autor,
“Fissurar o Capitalismo”, da mesma época da publicação do artigo que no
presente trabalho nos serviu de base (2011). Em inglês: “Crack Capitalism”,
London: Pluto Press, 2010; em espanhol: “Agrietar el capitalismo. El hacer
contra el trabajo”, Buenos Aires: Ediciones Herramienta, 2011.
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