O "GRITO" - John Holloway e a materialidade radical do poder-fazer
O “GRITO”:
John Holloway e a materialidade radical do poder-fazer/
A luta pela afirmação de um pensamento, mostra também
que a construção teórica de uma doutrina é também a reflexão histórica sobre um
momento.
(Teixeira, 1996, p. 35)*
Resumo: Este artigo aborda o pensamento
de John Holloway quanto à potencialidade de transformação social a partir de
opções de poder-fazer que se constituem como fissuras no modo de produção
capitalista. Explora possibilidades teóricas a partir do pensamento de Karl
Marx que elevem esse poder-fazer cotidiano ao patamar de luta persistente
contra a negação da vida nos conformes da reprodução do capital. A práxis
de que trata a dialética materialista dá ao pensamento contemporâneo de John
Holloway a substância da materialidade radical desse poder-fazer disruptivo, em
favor do processo de superação permanente do capitalismo. O “Grito” é o início
e, ao mesmo tempo, a própria fissura capaz de multiplicar as lutas dos agentes
sociais. Propõe-se aqui uma abordagem que, nos limites, oferece materialidade e
objetividade às subjetividades disruptivas em luta, na base das transformações
do trabalho contemporâneas, em que se alargue o tempo de trabalho social
disponível para a disposição dessas lutas.
Palavras-chave: Poder-fazer.
Fissuras. Tempo de trabalho disponível. Marxismo. John Holloway.
INTRODUÇÃO
John Holloway (2003)
começa o capítulo 1 da obra “Mudar o mundo sem tomar o poder” dizendo que “No
princípio era o grito. Nós gritamos.”, e continua: “Diante da mutilação de
vidas humanas provocada pelo capitalismo, um grito de tristeza, um grito de
horror, um grito de raiva, um grito de rejeição: NÃO.”. Este “não” se refere à
barbárie de nosso mundo, de nossa experiência mundana desoladora e horrível,
“de exploração nas fábricas, da opressão em casa, do estresse no escritório, da
fome e da pobreza ou da experiência da violência ou da discriminação.” (2003,
p. 9). Todo o capítulo justifica nossa percepção mais ou menos confusa da
repetição cotidiana desse filme de horror, porém bem real. Existe então uma
dissonância entre aquilo que as sociedades de mercado apregoam ou entregam para
uns poucos, e uma experiência de vida desumana e fúnebre, de miséria e doença
que só se agravam para a maioria da população mundial (1% dos mais ricos detém
38% da riqueza mundial nos últimos 26 anos. Na América Latina 10% fica com 77%
da riqueza)[2].
VEJA ARTIGO COMPLETO REVISTA TRANSFORMAÇÕES - 08/05/2025
[1] Pós-doutorando em Sociologia na
Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP – Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2610-8066. E-MAIL: prof. sacadura@gmail.com.
[2] https://revistapegn.globo.com/Economia/noticia/2021/12/concentracao-global-1-dos-mais-ricos-detem-38-de-toda-riqueza-produzida-no-mundo-nos-ultimos-26-anos.html.