Sobre as guerras: Dignidade e a Revolução

Se por aqui o Congresso é uma negociata só, por lá (Portugal) o governo único do PS deu corrupção. Isso, claro, não exclui esta de nossa governabilidade. Isto reforça minha ideia que a democracia representativa liberal está esgotada.

O modelo político burguês de "acomodação política" (partindo, pois, da concepção da "luta de classes") não consegue mais governar e exercer o poder. A meu ver, o problema volta pra questão do exercício do poder e de seu controle. Está na hora de dar mais atenção aos autores que propõem a autogestão, pensar o autonomismo das comunidades e o separatismo do Estado-nação seguindo a práxis de muitas formas de comunidades (entre outras, a mais significativa, a organização Zapatista). A prova melhor de minhas argumentações, infelizmente, são as duas guerras hoje e os perigos de se estender para uma guerra global. Eu vou ser chato (ou científico) mas várias vezes eu dizia, desde o final de 2019, que uma guerra de grandes proporções poderia acontecer. Cheguei a essa conclusão após o doutorado (Direito ao ócio: os desafios ao trabalho e a nova cultura. Almedina, 2021). São leis científicas do capitalismo desenvolvidas pelos fundadores do marxismo: no caso, a concorrência privada e estatal, a extinção de mercados, os cartéis, as transformações na composição orgânica do capital (mais mecanização e tecnologias no trabalho), desemprego e precarização do trabalho, a formação de capital fictício em detrimento da produção real global, a necessidade do aumento de investimentos do capital. Espero que o que ainda virá não seja tão pior...

Agora, a natureza já passou o limite de retorno - com nossa presença já não dá para o planeta se recuperar. Nossas metas de vida teriam que ser negativas: menos produção, menos consumo, menos 💰. Mas quem quer isto? A ecologia é nossa bandeira porque parecia ser o concreto mais palatável e observável pelo "senso comum" (teoria de Gramsci), mas acho que agora com as guerras e com o inevitável desmoronar do ambiente, nem isso fará diferença. Não se espantem se as coisas piorarem muito ainda, antes da virada estrutural necessária. Se ela acontecer...

Mas que a organização social neoliberal política e econômica está falida, só não vê quem não quer. Tristeza profunda por enquanto. No mais, são tempos sem ética, sem luzes, sem empatia, sem dó, a necropolítica desnuda nos requintes mais carnais da violência, da insensatez, da razão escatológica mais pervertida. O poder, urgente e insurgente, tem que ser tomado nas mãos das pessoas e suas comunidades. Nossas ações fazem a diferença porque somos dignos. "Na sociedade capitalista, ser digno é revolucionário" (John Holloway). Dignidade e autonomia é o caminho!

Autores que leio: 1. John Holloway (três últimos livros); 2. Adorno e Horkheimer (dialética negativa; dialética do conhecimento e crítica da razão); 3. Tudo sobre movimento zapatista; 4. Anselm Jappe; 5. Marx: Manuscritos 1844; Grundrisse; Ideologia Alemã; O Capital v1 e v3; 6. Jerome Baschet (ver demais autores sobre autonomismo); 7. Ricardo Musse (Trajetórias do marxismo europeu); 8. François Chasnais (ver a questão da financeirização)

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Livro Ética no Direito

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