A Ordem do Caos


Os acontecimentos recentes nos levam a crer que existe algo meio “torto” no mundo, pois a cada dia temos a impressão de estarmos sentados sobre um barril de pólvora prestes a explodir. Não é novidade que a comunidade Europeia passa por um período de extrema turbulência,
Por conta de inúmeras manifestações populares, que se fortalecem a cada dia, em países como: França, Grécia, Espanha e Inglaterra. Falando deste último podemos dizer que tamanho distúrbio, não está atrelado unicamente à crise global, que acomete o continente. A revolta de alguns jovens está enraizada nos seguintes fatores: o agigantamento do abismo entre as classes sociais, políticas governamentais voltadas exclusivamente para a economia, políticas sociais pouco satisfatórias e o pouco empenho nas questões raciais e políticas antidiscriminatórias.
A desigualdade social que aliada ao consumismo desenfreado, resulta na ideia de “ter” que se sobrepõe à de “ser” ressaltando o individualismo, que ao valorizar a riqueza - ou melhor, a ostentação de riqueza -, segrega uma maioria esmagadora e a mantém à margem da sociedade. Esses cidadãos excluídos, que apesar de não serem miseráveis sentem-se humilhados e discriminados, por não possuírem recursos e riquezas capazes de saciar seu desejo fútil de consumo. Tal mentalidade embora contestável é passível de nossa compreensão pois segundo Zygmunt Bauman: “Todos nós fomos coagidos e seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida e a principal solução para os problemas”.
Outro fato que merece destaque é a tendência declarada do governo britânico em injetar indiscriminadamente dinheiro em seus bancos como medida emergencial para conter o avanço da crise financeira. De certa forma podemos afirmar que esse foi o estopim da crise, pois se de um lado o governo investiu em seu sistema financeiro, por outro lado a mesma atenção não foi dispensada ao social, e em decorrência dessa atitude negligente instaurou-se grande desapontamento e revolta nos jovens cidadãos britânicos, que em um curto espaço de tempo se organizaram por meio da rede mundial de computadores e passaram a investir contundentemente contra a autoridade do Estado. Agora esse mesmo governo tenta conter tais práticas de forma coercitiva e truculenta com restrições ao acesso de redes sociais, combatendo assim o resultado ao invés de buscar entender suas reais causas, o que constitui uma solução paliativa com o mero pretexto de garantir a ordem, quando o que se quer realmente é jogar a sujeira para baixo do tapete.
No tocante à tolerância entre os povos e as políticas contra a discriminação de minorias pouco foi feito, seja pelo descaso das autoridades ou pela falsa ideia do multiculturalismo à priori, fez-se do combate à discriminação um assunto de pequena relevância.
A crise desencadeada na Europa, ou mais especificamente na Inglaterra, é decorrência de uma série de fatores que isolados passam pouca informação. Para um melhor entendimento de tudo que está se passando com o mundo, será de suma importância que busquemos entender o que está por trás dos números, índices e estatísticas, e que seja feita uma reestruturação em nossos valores morais e éticos, entendendo que a busca a todo custo não é destino, e tão pouco o caminho para a construção de uma sociedade mais justa e de um bem viver coletivo.

Por Fabiano Soares

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Filosofia do Direito

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