Mudar o Mundo Sem Tomar o Poder - Comunicação USP (FFLCH) - 24/09
A pesquisa de pós-doutoramento é evolução de um braço
fundamental da tese de doutorado, que pode ser verificada no livro “O Direito
ao Ócio: os desafios ao trabalho e a nova cultura” (edições 70, 2021). Nos
estudos de 4 anos atrás eu reconhecia a fragilidade dos mecanismos da luta dos
trabalhadores, enaltecia as lutas de grupos de representatividade, inseridos
nas lutas populares maiores, e refletia sobre a importância das atividades
culturais e artísticas como forma de luta contra a reificação (alienação)
capitalista. Essas ideias ainda orientam minha pesquisa atual, mas com maior
ênfase ao autonomismo no fluxo de fazeres cotidianos anticapitalistas –
a influência é das obras de John Holloway que passei a pesquisar. É isso que me
proponho a apresentar.
Encontro-me no meio da pesquisa atual: a mesma versa sobre a
revolução radical do poder-fazer em John Holloway, a partir da ideia que
devemos dar atenção para nossas atividades e comportamentos cotidianos,
repito cotidianos, aqui e agora, imediatos, a partir, portanto, de
nossas possibilidades concretas de práticas disruptivas anticapitalistas,
subjetivas ou coletivas.
[...]
No princípio John Holloway pensou em um “grito” de protesto,
como parte de um processo em que a “negação da negação” (capturada em Adorno
(Dialética Negativa, 2009)) se transforma em uma não-identidade, como um
outro lado da identidade capitalista que compõe a totalidade, o que lhe
rende críticas até hoje (Scholz, 2010 (Forma Social e Totalidade Concreta. Na
urgência de um realismo.)) – exatamente neste ponto que nossa tese, e a
presente pesquisa avança as ideias de Holloway: - o “grito” é dado como uma
não-identidade na medida em que é parte da desclassificação e exoneração das
formas próprias do fazer capitalista, presente aos indivíduos na medida em que
são compulsivamente expulsos do sistema (os “fantasmas” de Marx), ao menos
expulsos do produtivismo, e, já agora, expulsos do mercado (precarizados,
subempregados, desempregados, afora os excluídos historicamente, as minorias,
os da rua, etc.).
(https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/transformacao/article/view/16598/19072)
De qualquer forma, é possível pensar que estes indivíduos
(fora/dentro) têm seus fazeres, o poder-fazer ligado ao trabalho útil e não ao “trabalho
abstrato”, ou mesmo onde este último não alcança mais; em suas vidas, se não
pertencem ao trabalho, se não pertencem ao sistema, pode-se dizer que toda a
atividade será voltada à utilidade, ao trabalho útil.
Por fim, basta dizer que uma categoria, como “trabalho
abstrato”, não pode ser tão abstrata ao ponto de se encaixar em qualquer
situação de fluxo do fazer, só porque a totalidade é capitalista – existem
muitas formas de anticapitalismo..., e nem sempre dá para saber exatamente em
que medida são mais ou menos antissistêmicas, ou que podem fomentar a
cooperação, o coletivismo e o autonomismo.