Desmatamento, Egoísmo e Estado de Necessidade: Os Mitos do Contratualismo

Hoje* de manhã ouvi duas notícias: 1. o desmatamento na Amazônia cresceu 300%; 2. um professor nos EUA fez uma pesquisa que comprova que as pessoas à medida que conseguem mais dinheiro ficam menos atentas às dificuldades dos outros (rádio USP). isso tudo tem a ver com o Contratualismo.

A teoria de Hobbes parte da extrema carência no estado (situação) de natureza, indigência. havendo carência existe MEDO, logo os homens partem para a violência para preservar o que têm: antes que me roubem eu mato! daí deriva a necessidade do Estado (governo/governante), absoluto, truculento, excessivo, desproporcional, violento.

A teoria de Locke, ao contrário de Hobbes, parte do estado (situação) de natureza com abundância, provedor. não havendo carência, mas abundância, NÃO EXISTE MEDO, logo o direito natural (costumes, valores, cultura) é suficiente e os homens vivem em harmonia e paz! daí deriva um Estado mínimo (Governo/governante é um "mal necessário"). o problema no Locke é como contornar a complexidade do crescimento das sociedades, principalmente o controle sobre a PROPRIEDADE (e sua transmissão). Locke acredita que em estado de natureza os homens possuem tudo o que precisam e podem trocar/comercializar livremente o que possuem. isto quer dizer que o liberalismo parte da ideia que os homens estão em plena igualdade e liberdade para negociarem (tese do Estado mínimo).

A teoria de Rousseau, ao contrário de Locke, afirma que mesmo no estado (situação) de natureza os homens perderam a condição de igualdade, exatamente por causa da PROPRIEDADE. onde existe propriedade privada existe uns poucos com muito e muitos com pouco (teoria do senhor do castelo). se a abundância existe na natureza, se ela é pródiga, por que existe esta desigualdade entre os homens? porque a extração da riqueza da natureza e sua REPARTIÇÃO não é igual, não é proporcional, não é justa e ética, diz o autor (livros: Desigualdade Entre os Homens; Contrato Social). a liberdade nestas condições fica "submersa": o que dizer da liberdade para quem passa fome? daí que é preciso resgatar a igualdade (material, base da dignidade humana), o que exige um Estado com força (tese do Estado interventor). porém, o que dá a força ao Estado para resgatar esta igualdade? a assembleia popular que congrega a "vontade geral do povo". em Rousseau não existe medo, existe MISÉRIA criada pelos homens!

Bem, o que isto tem a ver com a Amazônia e a falta de solidariedade humana?

VOU ARRISCAR: se tenho medo porque existe carência infinita, vou continuar a fazer qualquer coisa para ter tudo que puder comprar, e vou defender a violência absoluta do Estado para defender a minha propriedade. por isso mesmo, me parece (a)normal que quem tem mais, mais e mais tenha medo de perder e portanto se fecha em si mesmo e vê o seu semelhante como inimigo em potencial. para o meu inimigo o máximo peso da lei, punição bárbara, desumana, desproporcional, etc. alguma dúvida que vamos continuar desmatando e depredando a Amazônia e toda a natureza do planeta? nossa "fome" por "quinquilharias" é infinita. daí a nossa "vingança coletiva" não deixa nada a desejar aos soberanos da antiguidade. por outro lado, se somos iguais nas coisas que temos, para que Estado, leis, punição, violência etc.???  tem alguma coisa que não fecha! existe sim riqueza para todos, a natureza e nossa inteligência podem suprir todas as necessidades: a desigualdade não está na carência da natureza, mas na desigualdade de repartição que os homens fazem!

* escrito em 18-11-2020

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