Hospitalidade, Fundamentalismo e a Desilusão da Modernidade
Neste exato momento ocorre
o Previsível!
Não de forma inusitada
ou espetacular, pelo menos não se comparado às guerras contemporâneas do Golfo
e do Iraque em 2003, que os “radicais” atuais assistiram enquanto crianças, ao
vivo, com suas famílias, como se fosse um “grande espetáculo” e “videogame”.
Também viram os noticiários e as imagens escatológicas de prisioneiros sendo
torturados de forma sádica nas prisões de Abu Ghraib e os assassinatos a sangue
frio em Fallujah. Como defendo neste livro, estamos todos conectados: eles
somos nós, nós somos a História!
Quando os Romanos
conquistaram os territórios mais ao Norte e tiveram os primeiros contatos com
os povos Germânicos, houve no Senado quem afirmasse: “Se Roma não respeitar os
“bárbaros”, os escravizar sem piedade, os explorar até à morte, os julgar sem
justiça e os assassinar sem constrangimento algum, inclusive da lei, eles se
revoltarão e os seus filhos não irão descansar enquanto não vingarem os pais,
as mães, os irmãos, as suas mulheres!” Como disse Tariq Ali (Folha de São Paulo:11 de janeiro de 2015):
“As circunstâncias que atraem homens e mulheres jovens para esses grupos
(radicais) não são escolhidas por eles, mas pelo mundo ocidental no qual vivem
– ele próprio é o resultado de longos anos de domínio colonial”.
O que explicar aos
nossos filhos? Como explicar o Afeganistão, o Paquistão, o Iêmen, Israel (os
Hebreus!) em Gaza, os Hezbollah (de Gaza) contra Israel, na Cisjordânia, no
Líbano, na Síria, por toda a Palestina? Como explicar a Al Qaeda, o Exército
Islâmico, o grupo Boko Haram na Nigéria, a disputa pela Ucrânia, a Coreia do Norte
e a guerra virtual real no espaço cibernético dentro da “nuvem” que eles
acessam para usar a Internet, os Celulares, os Selfies e os Whatsapp? Já saímos
dos traumas do 11 de setembro de 2001? E agora, por quanto mais tempo sairemos
deste novo absurdo, desta irracionalidade e desta bestialidade fomentada que
passará para a nossa incrível história humana como o dia 7 de janeiro de 2015? Como
explicar o atentado contra o jornal Charlie Hebdo? E como explicar a pífia
divulgação e vigílias na Europa, e demais países democráticos, quando se soube
que a CIA torturou acintosamente prisioneiros muçulmanos? Enfim, existe
explicação para a barbárie terrorista dos fundamentalismos dos capitais e das
religiões mundo afora?
Liberdade é um valor
Universal? Sim! Liberdade de expressão é um valor indissociável da Democracia?
Sim! Mas no mundo atual está claro a todos que existe mais liberdade para uns
que para outros, e mais democracia para uns do que para outros! Um
contrassenso, que só pode ser explicado porque se esqueceu de que valores
iluministas, mesmo tidos como universais, pouco ou nada representam se não
forem “reais”. Esses valores, que todos conhecemos e valorizamos, não podem ser
“divinizados”, quanto mais não seja exatamente porque foi as ações concretas do
povo na Revolução Francesa e na Independência Americana que os “fez”
universais. Universalidade não significa permissividade, pelo contrário, dela
deriva exatamente a restrição e interdição de benefícios e privilégios de
poucos em favor de todos. Claro que não existe liberdade de expressão, dos
franceses, do Ocidente, em detrimento e conspurcando a liberdade religiosa dos
muçulmanos e do Oriente!
O problema no Ocidente,
como no Oriente de hoje, é que os valores e as crenças ficaram no plano
meramente “formal”, e nesta dimensão puramente “idealizada” – ideológica! -, são
usados para possibilitar os interesses mesquinhos dos poderosos a par com a
servidão, miséria e desilusão de milhões, seja no âmbito do Liberalismo ou do
Fundamentalismo Religioso. Em suma: nos dias atuais, liberdade sem
responsabilidade é uma bomba de efeito imediato. A modernidade se exauriu. Em
seu rastro deixou um vácuo de frustração e desilusão que facilmente será
preenchido pelas forças em luta por capital (não apenas no capitalismo!) e
poder. Esse vazio será preenchido igualmente pelos “radicais”, aqueles que
acreditam de alguma forma que a solução está no mito da Fênix.
Algo que se vê fácil e
repetidamente ao se estudar a História dos povos e seu Direito, é que com pouco
esforço e Bom Senso se teriam evitado os grandes genocídios da humanidade. Isto
é tanto mais verdadeiro e precioso quando tomamos consciência que em nossas
origens históricas culturais estamos todos extremamente conectados. Os acertos
e as barbáries que cometemos são comuns a todos. Esperemos que não estejamos
perto demais de uma nova catástrofe!
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Referências Bibliográficas
- Michael Hardt; Antonio Negri. Império. Editora Record, 2006.
- José M. Sacadura Rocha. Antropologia Jurídica. Editora Juspodivm, 2018.
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